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Quem é Jacques-Marie Émile Lacan?

Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris em 13 de abril de 1901 e morreu na mesma cidade em 11 de setembro de 1981. Filho de Alfred Lacan e Émilie, estudou n...

Quem é Jacques-Marie Émile Lacan?
Quem é Jacques-Marie Émile Lacan? (Foto: Reprodução)

Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris em 13 de abril de 1901 e morreu na mesma cidade em 11 de setembro de 1981. Filho de Alfred Lacan e Émilie, estudou no Collège Stanislas, formou-se em Medicina, em Paris, e se especializou em Psiquiatria no hospital Sainte-Anne. Casou-se em 29 de janeiro de 1934, com Marie-Louise Blondin, com quem teve três filhos, Caroline, Thibaut e Sibylle. Simultaneamente ao seu casamento, a partir de 1937, Lacan se envolveu com a atriz Sylvia Bataille, então separada de Georges Bataille. Deste romance clandestino, nasceu Judith Bataille, que se tornou mais tarde Judith Miller - ao se casar com Jacques-Alain Miller -, e somente foi reconhecida oficialmente como filha de Lacan em 1964. Lacan viveu as duas guerras mundiais do século XX e uma grande sequência de acontecimentos históricos que atravessaram sua vida e obra, situando a sua formação intelectual e clínica num continente em convulsão. O percurso dos Seminários de Lacan é, a um só tempo, a melhor cronologia de sua vida intelectual e o lugar onde seus deslocamentos teóricos se deixam ler à luz dos acontecimentos históricos do século XX. Do primeiro ao último, os Seminários operaram como dispositivo de um pensamento contínuo, em uma cena pública, na qual Lacan foi construindo seu percurso teórico, a partir do retorno a Freud, ano a ano, ao longo de décadas. Constatamos que a Segunda Guerra Mundial reorganizou todo o mapa da psicanálise. Freud sai de Viena em 1938 para se refugiar em Londres; outros analistas migram para a Inglaterra e os EUA, fazendo com que a hegemonia teórica se reescreva sob o impacto da psicologia do ego e de outros analistas ingleses. Durante a Segunda Guerra, as fogueiras de livros, perseguição aos psicanalistas e os deslocamentos institucionais levam Lacan ao projeto de retorno a Freud, um movimento de restituir o sentido do que Freud inventou como psicanálise. Eis a que Lacan se dedicou, intelectual e institucionalmente, após a guerra. Entre 1952 e 1953, abre seu primeiro seminário, dedicado aos Escritos técnicos de Freud, um gesto programático que marca a centralidade do ensino oral na sua obra. A partir daí, o ensino anual dos Seminários e a publicação dos Escritos, em 1966, consolidam a arquitetura de seu retorno a Freud. O percurso do seu trabalho aparece explicitado nos temas dos seus seminários, que atravessam décadas de trabalho, de 1953 até 1979. Essa travessia de Lacan inicia no retorno à Freud, a partir de seus estudos técnicos e conceitos fundamentais, passando pela questão das formações do inconsciente, interpretação, ética, transferência, identificação, angústia, até ir ganhando contornos cada vez mais autorais do traço lacaniano como as temáticas acerca do fantasma, ato analítico, sinthoma, R.S.I., e topologia. Por fim, em 5 de janeiro de 1980, Lacan lança a Carta de dissolução da EFP, considerado um gesto institucional extremo que sinaliza a inseparabilidade, em seu ensino, entre produção conceitual e política de transmissão. Esta última década de vida de Lacan foi o período mais polêmico de sua prática clínica. Multiplicaram-se relatos sobre salas de espera lotadas, sessões muito breves e frequência elevada, alimentando críticas ao estilo Lacan. No fim da década, já debilitado, foi alvo de ataques na imprensa, o que motivou cartas públicas de apoio assinadas por profissionais da saúde mental. Lacan entrou em declínio físico no fim dos anos 1970. Apresentou alguns problemas neurológicos e, em 1980, foi diagnosticado com câncer de cólon. Internado na Clínica Hartmann, em 12 de agosto de 1981, e submetido à cirurgia para retirada de um tumor maligno, Lacan faleceu em 9 de setembro de 1981 e foi sepultado em Guitrancourt.